Para melhor conhecer os terrenos que se pisam, devemos ter consciência que existem diversos tipos de piso, com diferentes texturas, tamanhos e enquadramentos, como por exemplo, no que à flora envolvente diz respeito. Assim temos que, do mais estreito e sinuoso para o mais largo e inóspito, dos de campo e montanha aos da urbe e aos mistos, a panóplia de terrenos peregrinantes começa com:
- Sem marcação. É raro, mas acontece. Normalmente indicia que estamos perdidos ou que, se chegamos a bom porto, acabámos de marcar um novo trajecto.
- Carreiro. Pequeno rasgo na vegetação, que pode ser desde o capim jovem, em áreas secas por onde evolui o gado ovino, até silvas e/ou tojos que fecham quase por completo a passagem e que podem ter dois metros de altura. Este acontecimento fica a dever-se à falta de cuidado da organização que vigia os Caminhos. Em casos extremos, a passagem por tais carreiros pode levantar bastante os níveis de adrenalina, pela dificuldade, mas também é factor de enervamento, se sentirmos que está a exagerar no desleixo. Tais trajectos não são muito comuns. Quanto mais divulgado seja a variante do caminho, menos probabilidade temos de os encontrar. Se a peregrinação for no Caminho do Norte esta ocorrência é muito mais frequente do que se fizermos o Caminho Francês de Napoleão que acabei de relatar. Para dificultar mais as coisas, muitas vezes são solos enlameados em que a bicicleta, por falta de aderência tem que ser puxada à mão, ou em situações mais radicais, em que o conjunto homem/bicicleta/alforges não caiba, tem que ser empurrada, tendo muitas vezes que levantar-se o veículo, fazendo-o deslocar-se somente com a roda de trás no chão e o resto da bicicleta a fazer de escudo para as chicotadas das silvas, que ao passarmos voltam ao seu local original.
- Trilho (na gíria ciclística, o “single track”). Muito frequente nesta descrição, encontra-se quando nos deslocamos por zonas de extenso arvoredo, ou em montanha. Tanto são planos como têm inclinação. Nos mais íngremes a subir, lá está, o ciclista terá que apear, nos que descem, se transpostos com alguma perícia e “salpicos” de coragem derivam em grandes doses de puro entretenimento, em que a técnica vem ao de cima, e onde ficamos a perceber quão difícil é dominar a bicicleta. Escusado será dizer que ao mínimo descuido “é a morte do artista”. A forma de expressão peca pelo exagero, mas na realidade, se não se tomarem as devidas providências pode dar-se o caso de pararmos ao chão com tudo o que isso acarreta de desagradável, como sustos; nódoas negras; sujidade; degradação do vestuário, e, muito pior que isso tudo, possíveis lesões. A expressão pode ter alguma validade se esse descuido tiver como consequência a queda num declive acentuado que muitas vezes e como descrevi se encontra num dos lados do trilho. Muitos desses declives são precipícios sem qualquer tipo de guarda. Os mais perigosos de todos são os que estão escondidos por silvas ou outra vegetação, em que por debaixo delas não existe solo firme.
- Duplo trilho. Chamo-lhe assim porque normalmente, são antigos trilhos agora forçados por veículos de quatro rodas, sejam eles jipes, moto-quatro ou outros. As características da flora são idênticas à do trilho, mas por razões óbvias, tem muito mais largura e espaço visual. A diferença pode muitas vezes estar no facto de tais veículos, principalmente as moto-quatro ao passarem desbravando, causarem enormes irregularidades no terreno, ocasionalmente, autênticas crateras, que dificultam em muito a progressão. Então quando aliadas as grandes pedras, estejam elas cravadas no terreno ou soltas, tornam a progressão extremamente demorada e dura, em que as médias dificilmente passam dos quatro quilómetros hora.
- Empedrado. Pode ter muitas vertentes. O empedrado a imitar estrada rústica, em calçada (tipo, antiga calçada portuguesa) E a calçada de pedra preta, que normalmente dá ou deu o nome às calçadas que, para quem não esteja inteirado são quase sempre em declive acentuado. A progressão nestes “arruamentos” pode trazer algumas dificuldades de aderência, principalmente quando falamos de piso molhado. Logo todo o cuidado é pouco. Aconselho mesmo o apear, se para tal a inclinação do solo e sobretudo a irregularidade a isso aconselharem. Lá está, é uma das oportunidades para darmos uso ao bom senso. Mesmo apeados temos que ter alguma prudência para não escorregar. Principalmente quem usar sapatos de encaixes. Aço e pedra molhados: - Atrito 0.
- Calçada Romana. Estive hesitante entre esta denominação ou, a que por muitos é atribuída: - antiga calçada Romana. Nunca vi nenhuma em condições óptimas para andar de bicicleta, principalmente em pontes todo o cuidado é pouco. Que o diga o Ricardo, que já teve a oportunidade de sentir que a irregularidade das pedras é indiciadora de quedas (felizmente sem gravidade). Às vezes é preferível, quando falamos de pequenos riachos, passar por dentro de água, do que experimentar a sensação de “tentar” controlar a bici por entre as separações das pedras entretanto degradadas pelo tempo. Inclusivamente, e em casos pontuais pontes velhas há, que têm uma passadeira em madeira que se sobrepõe às pedras, protegendo o espólio arqueológico e, ao mesmo tempo, facilitando a passagem a todos os transeuntes, peregrinos ou não, com velocípedes ou sem eles. É uma das maneiras mais perigosas de pôr uma bicicleta a progredir, isto porque, se for a subir, estejam molhadas ou não, raramente se consegue aderência suficiente, além de que pela irregularidade, dificilmente conseguimos estar em cima da bicicleta. Se for a descer... Tentem! Quando se tem uma boa suspensão, boas pernas e perícia, torna-se bastante excitante. Cada pedra é um novo obstáculo, e cada uma que se transpõe é quase como uma vitória numa batalha em que a guerra só se vence com o fim da calçada romana. Não é fácil, mas quando se consegue, eleva-nos o ego para índices de topo. Com a moral em alta a progressão ainda é mais aliciante. Mas atenção; quando molhada, desaconselho vivamente o pedalar em cima das pedras. Aí sim, mal o pneu toca na pedra, resvala de imediato para um dos lados, provocando quedas descontroladas e aparatosas, essas sim, poderão causar danos irreversíveis.
- Estradão. Quase sempre abertos para a passagem de máquinas ou carros de bombeiros, é a forma mais correcta de possibilitar o acesso destes veículos às matas e florestas para a necessidade de combater fogos. E nisso meus caros, os Espanhóis não brincam. De tantos em tantos metros lá está um “tecor societario”, denominação frequentemente usada, e em placas demonstrada. Pela sua frequência, e principalmente em zonas de arvoredo, é muito usado pela organização dos Caminhos para se poder avançar até Santiago. Como zona de circulação de emergência deve (e em Espanha isso acontece), estar circulavel, o que pressupõe, independentemente da inclinação ascendente ou descendente, que seja ciclável. Aqui nestes trajectos consegue-se tirar o máximo usufruto da bicicleta, não deixando de se ter que usar a técnica para podermos progredir a velocidades mais altas, digamos que em média, é possível andar a quinze quilómetros por hora nestes estradões.
- Estrada de terra batida. Entrámos nas vias de circulação pública, em que os carros, sejam eles de tracção animal ou outra, se fazem deslocar. No caminho dito pedonal está presente com grande assiduidade, podendo mesmo dizer-se que, compartilha com as estradas asfaltadas (...E já lá vamos), a maioria dos trajectos dos Caminhos de Santiago. Quase sempre são planos, de inertes triturados, e sujeitos à passagem de cilindros de compactação. Muitas vezes indiciam uma futura estrada, ainda em obras. Ficou por várias vezes relatado por estas linhas, em diferentes ocasiões. Mas atenção. Nem sempre são sinónimo de facilidade. Recordo aqui a passagem de cerca de catorze quilómetros que nos levou de Carrión de los Condes até Calzadilla de la Cueza, em que os seixos por serem médios saltam e fazem uma trepidação enorme na bicicleta.
- Escadas. À pois é! Também temos que as passar de vez em quando. Não me lembro quantas já tive que “vencer”, mas não foram tão poucas quanto isso. Não vale a pena entrar em “Stress”, quando é inevitável, só há que respirar fundo e pegar na “carga” à mão para subir, ou descer, tal obstáculo. Desde três/quatro degraus até mais de cem, encontra-se de tudo.
- Pistas para bicicletas. Quase sempre perto das grandes urbes, também as há perto das praias. Servem como incentivo ao uso da bicicleta, ou ao “jogging”, e são de diversas extensões e tamanhos. Já “ciclei” em pistas de quase vinte quilómetros e já as apanhei de poucos metros, como obra inacabada ou fazendo parte de uma pista destruída. Logicamente são muito agradáveis de se fazer. Digamos que é a forma mais tranquila de andar de bicicleta. Incluo neste separador os tapetes de cimento, que apesar de não terem o tratamento final das pistas anteriormente referidas, características por serem vermelhas, são homogéneas e de fácil andamento. Muitas vezes existem como forma de tapar antigos trilhos enlameados, agora acimentados para facilitar o trânsito de peões. Encontram-se muitos exemplos destes em pequenas aldeias e zonas periféricas das cidades. Em muitos dos casos são projectadas e executadas pelos próprios habitantes.
- Estradas asfaltadas. As que vou descrever são cicláveis, mas há asfalto em que não se pode andar de bicicleta, nomeadamente nas auto-estradas espanholas (auto-pistas). Temos portanto, no grupo de estradas alcatroadas vários subgrupos, que começo agora a referir:
- Estradas rurais. Apesar de oficiais servem para acesso a aldeias ou desenvolvem-se por dentro destas. Muitas vezes são evoluções de antigos caminhos pedestres e de animais, e é por aqui que decorre em grande parte uma Peregrinação em bicicleta. Na sua grande maioria não têm qualquer tipo de tracejado, são estreitas e sem prolongamento lateral, e apesar de servirem os dois sentidos de trânsito, usualmente os carros para se cruzarem terão que abrandar ou mesmo encostar. Casos há, aliás na sua grande maioria, que estão pejadas de buracos. A construção é fomentada pelas câmaras (ayuntamentos) e freguesias.
- Estradas regionais. Da responsabilidade das províncias, autonômicas ou não, têm índices de movimentação bem elevados, e normalmente estão em bom estado de conservação. Têm sinalização de todo o tipo e marcas no asfalto.
- Estradas nacionais. São as estradas que atravessam a Espanha através das províncias. Têm uma qualidade de construção tal, que muitas, mais parecem auto-estradas. Embora se possa circular em bicicleta, só aconselho o uso desta vertente em caso excepcional. O movimento de transito é intenso, e apesar de os Espanhóis serem, de uma forma geral respeitadores dos ciclistas e em particular dos peregrinos, ”nunca fiando”.
- Auto-vias. Para nós portugueses, nem sempre é fácil entender esta destrinça que o país vizinho faz entre auto-vias e auto-pistas. Mas a explicação é esta, as auto-vias são auto-estradas sem portagem, equivalentes às nossas “scuts”. Só que em Espanha já existem há muitos e muitos anos, e têm realmente aspecto de auto-estrada. Incluí esta hipótese de progressão, porque como relatei uns capítulos mais atrás, há realmente, se quisermos surpreendentemente, hipótese de circular em algumas destas vias, como acabámos por faze-lo pelo menos por duas vezes. Uma sem querer, com muito receio de sermos autuados (ainda não sabíamos dessa possibilidade), e outra através de indicação de outro ciclista, onde acabámos por ser só mais dois entre muitas dezenas.
Como curiosidade gostava de salientar mais duas formas de avançar em direcção a Santiago, que não estão presentes neste Caminho Francês mas dos quais já fiz uso em Peregrinações efectuadas à-posteriori. Refiro-me às travessias de barco, que, nomeadamente no Caminho do Norte, na sua versão por Gijon usei por cinco vezes. Outra das formas inovadoras que já usei para me deslocar num Caminho de Santiago foi, desta vez por distracção, o caminhar por dentro de um rio. Com os sapatos e as meias pendurados no quadro da bicicleta e com água até aos joelhos, progredi alguns metros, para o atravessar de uma margem até à outra. Já depois de estar dentro do rio é que constatei que havia uma ponte, umas centenas de metros mais à frente. Mas já que ali estava, continuei. Afinal sempre era mais uma forma de andar em peregrinação.
- Sem marcação. É raro, mas acontece. Normalmente indicia que estamos perdidos ou que, se chegamos a bom porto, acabámos de marcar um novo trajecto.
- Carreiro. Pequeno rasgo na vegetação, que pode ser desde o capim jovem, em áreas secas por onde evolui o gado ovino, até silvas e/ou tojos que fecham quase por completo a passagem e que podem ter dois metros de altura. Este acontecimento fica a dever-se à falta de cuidado da organização que vigia os Caminhos. Em casos extremos, a passagem por tais carreiros pode levantar bastante os níveis de adrenalina, pela dificuldade, mas também é factor de enervamento, se sentirmos que está a exagerar no desleixo. Tais trajectos não são muito comuns. Quanto mais divulgado seja a variante do caminho, menos probabilidade temos de os encontrar. Se a peregrinação for no Caminho do Norte esta ocorrência é muito mais frequente do que se fizermos o Caminho Francês de Napoleão que acabei de relatar. Para dificultar mais as coisas, muitas vezes são solos enlameados em que a bicicleta, por falta de aderência tem que ser puxada à mão, ou em situações mais radicais, em que o conjunto homem/bicicleta/alforges não caiba, tem que ser empurrada, tendo muitas vezes que levantar-se o veículo, fazendo-o deslocar-se somente com a roda de trás no chão e o resto da bicicleta a fazer de escudo para as chicotadas das silvas, que ao passarmos voltam ao seu local original.
- Trilho (na gíria ciclística, o “single track”). Muito frequente nesta descrição, encontra-se quando nos deslocamos por zonas de extenso arvoredo, ou em montanha. Tanto são planos como têm inclinação. Nos mais íngremes a subir, lá está, o ciclista terá que apear, nos que descem, se transpostos com alguma perícia e “salpicos” de coragem derivam em grandes doses de puro entretenimento, em que a técnica vem ao de cima, e onde ficamos a perceber quão difícil é dominar a bicicleta. Escusado será dizer que ao mínimo descuido “é a morte do artista”. A forma de expressão peca pelo exagero, mas na realidade, se não se tomarem as devidas providências pode dar-se o caso de pararmos ao chão com tudo o que isso acarreta de desagradável, como sustos; nódoas negras; sujidade; degradação do vestuário, e, muito pior que isso tudo, possíveis lesões. A expressão pode ter alguma validade se esse descuido tiver como consequência a queda num declive acentuado que muitas vezes e como descrevi se encontra num dos lados do trilho. Muitos desses declives são precipícios sem qualquer tipo de guarda. Os mais perigosos de todos são os que estão escondidos por silvas ou outra vegetação, em que por debaixo delas não existe solo firme.
- Duplo trilho. Chamo-lhe assim porque normalmente, são antigos trilhos agora forçados por veículos de quatro rodas, sejam eles jipes, moto-quatro ou outros. As características da flora são idênticas à do trilho, mas por razões óbvias, tem muito mais largura e espaço visual. A diferença pode muitas vezes estar no facto de tais veículos, principalmente as moto-quatro ao passarem desbravando, causarem enormes irregularidades no terreno, ocasionalmente, autênticas crateras, que dificultam em muito a progressão. Então quando aliadas as grandes pedras, estejam elas cravadas no terreno ou soltas, tornam a progressão extremamente demorada e dura, em que as médias dificilmente passam dos quatro quilómetros hora.
- Empedrado. Pode ter muitas vertentes. O empedrado a imitar estrada rústica, em calçada (tipo, antiga calçada portuguesa) E a calçada de pedra preta, que normalmente dá ou deu o nome às calçadas que, para quem não esteja inteirado são quase sempre em declive acentuado. A progressão nestes “arruamentos” pode trazer algumas dificuldades de aderência, principalmente quando falamos de piso molhado. Logo todo o cuidado é pouco. Aconselho mesmo o apear, se para tal a inclinação do solo e sobretudo a irregularidade a isso aconselharem. Lá está, é uma das oportunidades para darmos uso ao bom senso. Mesmo apeados temos que ter alguma prudência para não escorregar. Principalmente quem usar sapatos de encaixes. Aço e pedra molhados: - Atrito 0.
- Calçada Romana. Estive hesitante entre esta denominação ou, a que por muitos é atribuída: - antiga calçada Romana. Nunca vi nenhuma em condições óptimas para andar de bicicleta, principalmente em pontes todo o cuidado é pouco. Que o diga o Ricardo, que já teve a oportunidade de sentir que a irregularidade das pedras é indiciadora de quedas (felizmente sem gravidade). Às vezes é preferível, quando falamos de pequenos riachos, passar por dentro de água, do que experimentar a sensação de “tentar” controlar a bici por entre as separações das pedras entretanto degradadas pelo tempo. Inclusivamente, e em casos pontuais pontes velhas há, que têm uma passadeira em madeira que se sobrepõe às pedras, protegendo o espólio arqueológico e, ao mesmo tempo, facilitando a passagem a todos os transeuntes, peregrinos ou não, com velocípedes ou sem eles. É uma das maneiras mais perigosas de pôr uma bicicleta a progredir, isto porque, se for a subir, estejam molhadas ou não, raramente se consegue aderência suficiente, além de que pela irregularidade, dificilmente conseguimos estar em cima da bicicleta. Se for a descer... Tentem! Quando se tem uma boa suspensão, boas pernas e perícia, torna-se bastante excitante. Cada pedra é um novo obstáculo, e cada uma que se transpõe é quase como uma vitória numa batalha em que a guerra só se vence com o fim da calçada romana. Não é fácil, mas quando se consegue, eleva-nos o ego para índices de topo. Com a moral em alta a progressão ainda é mais aliciante. Mas atenção; quando molhada, desaconselho vivamente o pedalar em cima das pedras. Aí sim, mal o pneu toca na pedra, resvala de imediato para um dos lados, provocando quedas descontroladas e aparatosas, essas sim, poderão causar danos irreversíveis.
- Estradão. Quase sempre abertos para a passagem de máquinas ou carros de bombeiros, é a forma mais correcta de possibilitar o acesso destes veículos às matas e florestas para a necessidade de combater fogos. E nisso meus caros, os Espanhóis não brincam. De tantos em tantos metros lá está um “tecor societario”, denominação frequentemente usada, e em placas demonstrada. Pela sua frequência, e principalmente em zonas de arvoredo, é muito usado pela organização dos Caminhos para se poder avançar até Santiago. Como zona de circulação de emergência deve (e em Espanha isso acontece), estar circulavel, o que pressupõe, independentemente da inclinação ascendente ou descendente, que seja ciclável. Aqui nestes trajectos consegue-se tirar o máximo usufruto da bicicleta, não deixando de se ter que usar a técnica para podermos progredir a velocidades mais altas, digamos que em média, é possível andar a quinze quilómetros por hora nestes estradões.
- Estrada de terra batida. Entrámos nas vias de circulação pública, em que os carros, sejam eles de tracção animal ou outra, se fazem deslocar. No caminho dito pedonal está presente com grande assiduidade, podendo mesmo dizer-se que, compartilha com as estradas asfaltadas (...E já lá vamos), a maioria dos trajectos dos Caminhos de Santiago. Quase sempre são planos, de inertes triturados, e sujeitos à passagem de cilindros de compactação. Muitas vezes indiciam uma futura estrada, ainda em obras. Ficou por várias vezes relatado por estas linhas, em diferentes ocasiões. Mas atenção. Nem sempre são sinónimo de facilidade. Recordo aqui a passagem de cerca de catorze quilómetros que nos levou de Carrión de los Condes até Calzadilla de la Cueza, em que os seixos por serem médios saltam e fazem uma trepidação enorme na bicicleta.
- Escadas. À pois é! Também temos que as passar de vez em quando. Não me lembro quantas já tive que “vencer”, mas não foram tão poucas quanto isso. Não vale a pena entrar em “Stress”, quando é inevitável, só há que respirar fundo e pegar na “carga” à mão para subir, ou descer, tal obstáculo. Desde três/quatro degraus até mais de cem, encontra-se de tudo.
- Pistas para bicicletas. Quase sempre perto das grandes urbes, também as há perto das praias. Servem como incentivo ao uso da bicicleta, ou ao “jogging”, e são de diversas extensões e tamanhos. Já “ciclei” em pistas de quase vinte quilómetros e já as apanhei de poucos metros, como obra inacabada ou fazendo parte de uma pista destruída. Logicamente são muito agradáveis de se fazer. Digamos que é a forma mais tranquila de andar de bicicleta. Incluo neste separador os tapetes de cimento, que apesar de não terem o tratamento final das pistas anteriormente referidas, características por serem vermelhas, são homogéneas e de fácil andamento. Muitas vezes existem como forma de tapar antigos trilhos enlameados, agora acimentados para facilitar o trânsito de peões. Encontram-se muitos exemplos destes em pequenas aldeias e zonas periféricas das cidades. Em muitos dos casos são projectadas e executadas pelos próprios habitantes.
- Estradas asfaltadas. As que vou descrever são cicláveis, mas há asfalto em que não se pode andar de bicicleta, nomeadamente nas auto-estradas espanholas (auto-pistas). Temos portanto, no grupo de estradas alcatroadas vários subgrupos, que começo agora a referir:
- Estradas rurais. Apesar de oficiais servem para acesso a aldeias ou desenvolvem-se por dentro destas. Muitas vezes são evoluções de antigos caminhos pedestres e de animais, e é por aqui que decorre em grande parte uma Peregrinação em bicicleta. Na sua grande maioria não têm qualquer tipo de tracejado, são estreitas e sem prolongamento lateral, e apesar de servirem os dois sentidos de trânsito, usualmente os carros para se cruzarem terão que abrandar ou mesmo encostar. Casos há, aliás na sua grande maioria, que estão pejadas de buracos. A construção é fomentada pelas câmaras (ayuntamentos) e freguesias.
- Estradas regionais. Da responsabilidade das províncias, autonômicas ou não, têm índices de movimentação bem elevados, e normalmente estão em bom estado de conservação. Têm sinalização de todo o tipo e marcas no asfalto.
- Estradas nacionais. São as estradas que atravessam a Espanha através das províncias. Têm uma qualidade de construção tal, que muitas, mais parecem auto-estradas. Embora se possa circular em bicicleta, só aconselho o uso desta vertente em caso excepcional. O movimento de transito é intenso, e apesar de os Espanhóis serem, de uma forma geral respeitadores dos ciclistas e em particular dos peregrinos, ”nunca fiando”.
- Auto-vias. Para nós portugueses, nem sempre é fácil entender esta destrinça que o país vizinho faz entre auto-vias e auto-pistas. Mas a explicação é esta, as auto-vias são auto-estradas sem portagem, equivalentes às nossas “scuts”. Só que em Espanha já existem há muitos e muitos anos, e têm realmente aspecto de auto-estrada. Incluí esta hipótese de progressão, porque como relatei uns capítulos mais atrás, há realmente, se quisermos surpreendentemente, hipótese de circular em algumas destas vias, como acabámos por faze-lo pelo menos por duas vezes. Uma sem querer, com muito receio de sermos autuados (ainda não sabíamos dessa possibilidade), e outra através de indicação de outro ciclista, onde acabámos por ser só mais dois entre muitas dezenas.
Como curiosidade gostava de salientar mais duas formas de avançar em direcção a Santiago, que não estão presentes neste Caminho Francês mas dos quais já fiz uso em Peregrinações efectuadas à-posteriori. Refiro-me às travessias de barco, que, nomeadamente no Caminho do Norte, na sua versão por Gijon usei por cinco vezes. Outra das formas inovadoras que já usei para me deslocar num Caminho de Santiago foi, desta vez por distracção, o caminhar por dentro de um rio. Com os sapatos e as meias pendurados no quadro da bicicleta e com água até aos joelhos, progredi alguns metros, para o atravessar de uma margem até à outra. Já depois de estar dentro do rio é que constatei que havia uma ponte, umas centenas de metros mais à frente. Mas já que ali estava, continuei. Afinal sempre era mais uma forma de andar em peregrinação.
Brevemente, publicarei por aqui mais alguns excertos deste "manual" do Peregrino ciclista...
Até lá, o "Guarda-Rios"
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