quinta-feira, 30 de julho de 2009

Caminho Inglês invertido


Ferrol, 29 de Julho de 2009. 19,00 H

- Nem sei por onde começar!

Aqui estou eu em Ferrol, com uma caña na mão esquerda e um polígrafo na direita. A fazer tempo para o Comboio que me levará até La Coruña (com a bici montada), onde penso poder passar os olhos pelo centro e p’la sua movida, para que consiga estar presente às 5,30 h na estação, com o objectivo de apanhar o trem até Redondela, e daí para o Porto… o resto já vocês sabem…
Em relação ao barco que julgava existir (Ferrol – La coruña), pois acabou o ano passado. Com alternativas como o comboio e os autobus(es)… Já foste!

- Então cá vai…

…Saí do albergue, seminário menor, por volta das 8,00 h. Dormi melhor do que na noite anterior, aliado a um sem números de factores que agora não vou relatar. Como dizia no post anterior, as primeiras noites são um desastre mas a partir daí é sempre a “subir”.
Como tinha o track do caminho Inglês no GPS (retirei dum espanhol no Wikiloc), pus-me em rota com a “linha verde”, sabendo de antemão que pela frente tinha cerca de 120 km’s por Caminhos. Para começar o objectivo era tentar (sim, tentar) chegar a Sigueiro, 18 km’s mais a Norte.
Nisto dos Caminhos não vale a pena fazer planos. É pôr a Bici a andar terra por terra e esperar que vá correndo tudo bem…
…Depois, depois logo se vê!
Sem quedas, sem furos, com umas ligeiras saídas de rota, que isto de fazer um caminho em sentido inverso tem muito que se lhe diga, e, essencialmente com muita vontade de pedalar, continuei step by step. Depois de Sigueiro, cidade pequena mas empreendedora, seguiram-se pequenos povoados como: - Ordes, Bruma; Leiro, até chegarmos a Bentazos esta sim uma cidade média toda ela “virada” para o rio.
Este Caminho é por certo o mais inóspito, pelo menos até Miño. Daí para a frente surgem as habituais cidades industriais e portuárias, típicas das costas e dos seus portos marítimos. São assim, o já referido Miño; Pontedeume e Ferrol, mais o seu satélite, Neda.

Em geral este Caminho apresenta trilhos muito convidativos, tão virgens quanto a presença humana vai deixando, mas acima de tudo com pouquíssimas estradas nacionais.
Sempre a subir até Bruma, chegando aos 470 mt de altitude, tem uma infinidade de “pequenas” elevações, o que proporciona um acumulado se mais de 2200 mt. Curioso salientar, é o facto de tal Caminho quando percorrido na sua versão original (Ferrol – Santiago) ter qualquer coisa como 2400 mt. Este “incidente” explica-se porque Santiago está a mais de 200 mt acima do nível do mar enquanto Ferrol “é o mar”.
Como as povoações, na sua maioria não têm albergue e as que têm estão fechados. Como o de Miño por exemplo. Passei sem carimbar em lado algum. Acabei por fazê-lo somente em Ferrol como seria da praxe. Por não haver assim tantos motivos de interesse, fui avançando até Ferrol, não sem antes ter que tapar todos os apetrechos e o próprio condutor da Bicicleta de ser afectado por uma chuva miudinha mas constante, que depois de instalada jamais se retirou dos céus. Constatei mais tarde, via órgãos de comunicação que em toda a Península Ibérica raiava um sol resplandecente, excepto aqui neste burgo. Esta região norte da Galiza é (se quisermos) um microclima.

114 km’s depois, muito desgaste provocado pelos trilhos e pelas mais de oito horas em cima da Bicicleta, acabei por cumprir mais um Caminho de Santiago. – Este Inglês, fi-lo num dia. – Calhou!
Resta-me acrescentar que após Miño e até Pontedeume, troços houve que efectuei pela carretera 651. Uns por dúvidas, outros por obras no traçado e outros ainda pela própria chuva, que não mais me largou até Ferrol.

Concluindo esta incursão nos Caminhos em causa, posso adiantar que me senti como se tivesse dado umas valentes pinceladas pela costa Galega (tão grande e vasta que toca o Atlântico e o mar do Norte). É que antes desta oportunidade, apenas lhe conhecia as penínsulas de Cee e Finisterra, e a mui bella e “marisqueira” de Vigo.
Águas e Rios é o que não falta aqui no Burgo para... Guardar.

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