quinta-feira, 25 de junho de 2020

EN 2 - Estrada Nacional 2 (2ª Vez - Chaves - Faro)

...Aproveitando a crónica que o J.A.S. (Jabas) fez no blog Fuga da Maria, aqui a transcrevo na íntegra, de forma a que fique por aqui testemunhada mais esta aventura destes amigos...

EN2



Uma vez de vez em quando, temos que nos armar em machos durante 2 ou três dias… ou se pretendermos ser machos, mas mesmos machos com os ditos no sitio, temos que sair de casa durante 4 ou 5 dias. E como já não sentíamos esse orgulho, profundamente másculo, há já 3 anos, sentimo-nos na obrigação interior, de nos desafiarmos a um projeto um tanto ou quanto parvo (para não dizer outra vez parvo), que se resume na travessia de bicicleta, de Norte a Sul do interior do nosso país, em 4 dias e meio, na tão aclamada e mítica EN2. Dizem, os pouco informados, que é a 3ª maior estrada do mundo, e assim mantenho essa descrição, para nos vangloriar ainda mais o feito herculano cumprido.
Este objetivo foi inúmeras vezes tema nas conversas domingueiras, durante alguns meses, intercalado com as conversas de indignação dos serviços da MEO e da NOS, que tanto debatemos semanalmente, e que fomos adiando, ora por falta de tempo de férias, ora por  coiso. E aproveitando a conjuntura mundial, que aconselha as pessoas ficarem em casa e evitarem ajuntamentos, lá decidimos que era a altura certa para o fazer… claro que não foi bem assim. No fundo só precisávamos de alguém com competência para organizar (não vou referir nomes).
Definida uma data que interessava e permitia a presença de todos, foi apenas necessário aquele click de alguém, que começou a tratar da logística… transporte, com apoio e dormidas. Era essa a grande incógnita, sobre a disponibilidade e reabertura das hospedagens, mas nada que um telefonema não resolvesse. E prontos, meios disponíveis, dormidas marcadas e pagas, já só faltava começar a pedalar.
Restava-nos aguardar ansiosamente que a data chegasse e preparamo-nos psicologicamente para aturar 4 gajos durante 5 dias…
Ainda houve algumas questões no ar… na carrinha cabem as 4 bicicletas, os 5 macacos e a bagagem?... e se chover, vamos? Qual o creme que põem no cu?
Chega o dia da abalada e abalámos… o motorista começou a recolher os passageiros, ajudado pelo pendura que desmontava e encaixava o puzzle na carrinha, o alguidar recebia a bagagem e com mais uma precinta e uma volta na fita, passadas 4 horas e meia, um quarto de garrafa de medronho, uns bolinhos caseiros feitos pelo je (já disse que não ia dizer nomes), já estávamos em Chaves à procura de restaurante para almoçar. Começou a parte mais interessante da viagem… as vaquinhas e os brindes. Nota: se o leitor não sabe o significado de vaquinha, não pergunte à esposa, sff (basta escrever nos comentários, que alguém do grupo traduz).
A montar o Puzzle


Já em Chaves, na vaquinha e nos brindes

Fotos da praxe no inicio da EN2, creme no cú, óleo nas bicicletas e iniciámos a epopeia até Vila Real.

 Este primeiro trajecto, com cerca de 63kms, foi uma ligação primordial, uma vez que conseguimos aproveitar o dia para avançar no mapa sem grande prejuízo físico e permitiu reduzir os quilómetros das restantes etapas, já extensas o q.b. Tempo soalheiro, vento de frente, fica o registo para memória.

Chegados ao centro de Vila Real, instalámo-nos na pensão da pernoita e do repasto. Vai mais uma vaquinha, mais uns brindes aos golos do glorioso, outros aos do Portimonense e vamos dar uma voltinha a pé para desmoer. Vai um Gin tónico para ajudar ao convívio umas histórias de outras andanças e siga para a caminha, que amanhã é que vai doer.
Mais um brinde

Saída de Vila Real

Renovado o creme no cú, acrescentado óleo nas correntes das bicicletas, por volta das 9 horas já rolávamos. Por esses caminhos fora, começa a chover… aquela chuva molha parvos, fora de casa em tempo de quarentena, sabem? Essa mesmo.
Assalto em Peso da Régua

 Passámos em locais espectaculares com paisagens lindas, pelo menos é o que dizem, porque na verdade não dava para ver quase nada, mas ainda assim, deu para ir curtindo o caminho, nas estradas serpentiadas e no atravessamento de rios e pontes, ou melhor pontes sobre rios, que esta estrada nos oferece. 
Ponte sem fim


O marco mais fotografado do trajecto

Pena o tempo não ter permitido a contemplação total dos locais por onde passámos, mas ainda assim deu para perceber a beleza natural desta zona do país. 
Lamego

Paragem em Viseu para almoçar uma bifana especial e comprar umas travessas para os sapatos e siga até Santa Comba Dão, onde pernoitámos e nos encontrámos finalmente com o carro de apoio, após uma incursão à Serra da Estrela para buscar gelo para colocar na geleira.
Viseu

Feitas as apresentações ao dono da casa alugada, localizada à entrada da cidade, fomos contemplados por um jantar digno de rei… acho que estou a exagerar um pouco, mas fica bem… feito pela pessoa que não posso dizer o nome. Mais umas jolas e uns brindes, deu-nos para ir passear um pouco, para tentar um cafezinho, cafezinho esse que evidenciou que afinal há um elemento do grupo que não só vê mal ao perto, mas também vê mal ao longe.
No repasto da casa
Ainda dizem que em Santa Comba Dão não há toureiros...



Após o descanso de 150kms, lá nos levantámos com a certeza que desta vez a chuva foi ali e já vem. Mais umas horas a levar com ela, lá tive que recorrer a um óleo desenvolvido por engenheiros da NASA, daqueles que é uma mistura de um óleo de corrente normal, com uma dosezinha de óleo de maquina de projecção de filmes americano e uma pitadinha de teflon, para calar o estalido dos pedais, que a água tanto gosta de evidenciar.
Douro

Este 3º dia, foi o mais duro, não apenas pela sua extensão e acumulado de subida, mas também pelo acumulado de subida e da sua extensão… 195kms, com 3.000m de acumulado de ascensão. Foi um dia que passou num ápice, mas muito vagaroso (ainda estou todo embaralhado), tal a variedade de locais por onde passámos e sem dúvida o mais abrangente em termos de dificuldade. 
Até parece um profissional

Almoçamos em Gois, numa pastelaria com os melhores croissants mistos do mundo, cantámos pela primeira vez os parabéns a uma pessoa que não posso dizer o nome, e passados 409kms, já estávamos em Abrantes.
Marco de Góis

Praia fluvial do Sinhel - Alvares

Melriça - Vila de Rei

Vista de Abrantes para Sul
Chegados a Abrantes e após alguma dificuldade em encontrar a casa, pois fica bem lá no cimo, junto da cruz da igreja (já depois do campanário), partimos de imediato para além de Tomar, onde nos encontrámos com os nossos companheiros de Fátima, ao abrigo do plano de confinamento da DGS que permite um ajuntamento de 10 pessoas, num espaço reservado e bem arejado, com comida e pinga boa e desde que um dos elementos seja aniversariante.

Mais 48 quilómetros de regresso à estadia (de carro, convém mencionar, para não pensarem que me estou a esticar) e vamos dormir que já passa da 01:00.
A juzante da barragem da Aguieira

Naturalmente que no dia seguinte apenas começámos a pedalar às 10:00… e ainda para mais no dia menos interessante sob o ponto de vista de paisagens e tipo de estrada. Estrámos no Alentejo e como sabido, a seguir a uma reta (que não é plana) vem outra reta (que também não é plana). Foi um dia difícil psicologicamente falando, acentuado pela boémia da noite passada, mas como verdadeiros machões lá fomos rolando com mais ou menos paragens, numa dessas ainda fomos gozados por alentejanos que nos confundiram com um rebanho, até ao destino – Torrão. Localidade originária do grande ciclista que não posso dizer o nome, atualmente com 84 anos, detentor de várias proezas individuais, como a viagem de Portugal Luxemburgo em bicicleta, 24 horas consecutivas a pedalar em rolo, entre outras… pelo menos assim o venderam. Nunca tinha ouvido falar nesta localidade, mas o certo é que não me vai sair da memória, não pelas façanhas do sr. Ciclista, mas pela melhor sopa de cação do mundo.
Tive o caminho todo a cortar o vento para os meus companheiros

Alcaçovas
Apenas faltam 183kms, depois dos 165kms percorridos no dia anterior.
E vamos lá levantar cedo que se faz tarde!!! Creme no cú, óleo da NASA na corrente da bicicleta e diretos ao pequeno almoço na pastelaria que ainda não abriu… mas isto não abre às 8:00? Já são 8:17 e está fechada… “Deves pensar que estás na Lourinhã!!! (digo eu, para mim)”
Já prontinhos para começar a andar sem o pequeno almoço tomado, lá aparecem os funcionários, ou donos, do estabelecimento… vá lá, ainda não é desta que passo fome no Alentejo. Ups, se o bidé alentejano lê isto, vou ter que o ouvir… no Alentejo é que se come bem, é preciso é saber onde ir, e que o Alentejo é a melhor terra do mundo e arredores e …. Já não lembro de mais, porque tive que desligar o aparelho auditivo, que estava quase a rebentar com o amplificador.

Lá vamos em direção e Ferreira do Alentejo, Aljustrel (tirar umas fotos ao maquinista), Castro Verde (puxar as orelhas a uma ovelha), por onde almoçámos, sempre com um dia soalheiro a dar para o quentinho, mas felizmente perfeitamente tolerável. Nota para o estado da estrada nesse trajeto, nomeadamente Aljustrel- Castro Verde, que se encontra num estado perfeitamente deplorável.
O Maquinista
Ferreira do Alentejo

Há toureiros para todas as medidas

Estava cumprida a parte mais aborrecida do caminho, das planícies alentejanas, que de plano não têm nada, para entrarmos no interior algarvio, que tão boa memória me traz, de outra aventura com o bidé africano e do outro elemento que não posso dizer o nome.
Besta sobre besta!!
Este traçado, é para mim, o mais curtido pelas subidas e descidas, com as curvas desenhadas por engenheiros de estrada ingleses, com os “relevês” geometricamente calculados. Senti-me um verdadeiro piloto de pista, numa Famel zundapp xf17 com escape de 80. Muito Bom!!
Serra do Caldeirão

Faltando apenas 40kms para o destino, no topo da serra do caldeirão, estávamos mais tranquilos, porque, segundo um elemento, o qual não posso dizer o nome, era sempre a descer. 
Mais um brinde!!! A partir daqui é sempre a descer!!

E quase que acertava… tirando umas quantas subidas, que já pesavam no aspecto psicológico.
Foi-se impondo um ritmo mais acelerado, com a vontade de chegar ao destino, e derrepente… voilá!! Chegámos à mítica rotunda 738!!

ORAF ?? 837??


Missão cumprida, resta a viagem de regresso, não sem antes de montar o puzzle na carrinha e encontrar um sitio para o ultimo repasto. Na falta de ideias e depois de verificar que um restaurante de referencia em Faro se encontrava fechado, lá fomos ao Zé do Peixe assado, em Albufeira, por caminhos interiores, conforme indicação do telemóvel de ultima geração, de uma pessoa que eu não vou dizer o nome, comer umas sardinhas assadas, boas, mas piquenas e um polvo à lagareiro à moda algarvia.

Feitas as contas, com mais uma voltinha ou engano, foram 750kms, 9.210m de acumulado de subida, em 30h:30m, repartidos em 4 dias e meio... e uma cagada no mato.
A estudar a flora alentejana
A carrinha, que sempre nos acompanhou, com exceção no 2º dia, onde fez uma pequena incursão à Serra da Estrela, foram cerca de 1.700kms, se a memória não me falha.
Resta o agradecimento aos envolvidos, nomeadamente ao Ricardo Rosa, pela disponibilidade, paciência, ajuda, explicação de funcionamento do som estereofónico e tudo o mais, e ao João Galvão, por toda a organização antes e durante o passeio, que tanto o caracteriza, sabendo todos nós, que nem vale a pena tentar ajudar que só vamos complicar. Aos restantes bidés, tal como eu, resta-nos aturar-nos uns aos outros e prontos a desafiarmos a um novo desafio.
JAS



TRACKS GPS DESTA VIAGEM









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